Por que o caso do menino que sumiu em Santa Catarina e 'apareceu' em São Paulo é preocupante?

O caso do menino Nicolas Gaspar, de 2 anos de idade, que desapareceu em São José, na Grande Florianópolis (SC), poderia ter passado despercebido entre tantas outras histórias de movimentação ilegal de crianças. Mas tomou a conta da internet e das conversas em mesas de bar nas últimas semanas.

Afinal, o que um bebê tão pequeno, nascido em Santa Catarina, poderia estar fazendo com pessoas desconhecidas, não familiares, na cidade de São Paulo? Quem acompanha casos de tráfico de crianças ficou com uma pulga atrás da orelha quando a história veio à tona. Tudo parecia muito estranho. Não tratar como mais um caso de tráfico de criança parecia quase impensável.

Nicolas: de SC a SP

Para resumir a história, até onde se sabe, o bebê Nicolas desapareceu no fim de abril em São José (SC). A polícia foi acionada e começou a investigar o desaparecimento. No dia 8 de maio, pouco mais de uma semana depois, Nicolas "apareceu" com um homem de 52 anos e uma mulher de 41 dentro de um carro, no Tatuapé, Zona Leste da capital paulista.

Vale ressaltar aqui o trabalho louvável de cooperação e de Intel entre as polícias civil e militar dos dois estados. Com informações de inteligência trocadas entre os agentes em tempo real, importantíssimo para operações deste tipo, foi possível localizar um carro que deixou Santa Catarina e chegou a São Paulo com placas adulteradas - onde estava a criança.

O primeiro sinal de tráfico: a 'doação' do bebê

É muito comum, em histórias de adoção internacional ou de tráfico de crianças, que famílias pobres sejam aliciadas para entregar seus filhos a quadrilhas que fazem a mediação com quem quer ficar com os menores, geralmente fora do Brasil.

Este foi o primeiro sinal de alerta: Roberta Porfírio, a mulher com quem Nicolas foi encontrado em São Paulo, apresentou à polícia um documento que seria a certidão de nascimento da criança e explicou: a mãe teria doado o menino. Ela e o homem com quem estava, Marcelo Valverde, então, estariam indo ao Fórum regularizar a situação. Foi o que disseram ao ser presos - o que acabou se confirmando. 

A mãe, entretanto, estava em um quadro de extrema vulnerabilidade, internada, e não sabia do paradeiro da criança. Foi o tio do menino, o comediante Juliano Gaspar, quem avisou a polícia e deu início a uma campanha nas redes sociais para localizar a criança. Valverde e Porfírio foram presos em flagrante por tráfico de pessoas com finalidade de adoção ilegal (Art. 149-A, IV). Eles não são um casal.

"Minha irmã, mãe [de Nicolas], está internada e não consegue dar informações de onde o deixou ou quem ficou com ele. Sabemos que a pessoa que está com ele pode nem saber que ele está dado como desaparecido, nosso objetivo agora é apenas trazê-lo de volta ao lar de forma segura"

Foto de capa: Reprodução/Redes sociais